Somos PUC: conheça Ronan, da Escola de Circo

Temos várias formas de chegar à universidade, mas só em uma delas você chega ao circo. Isso mesmo. Ronan Marcelino de Souza chegou à PUC Goiás no picadeiro da Escola de Circo Dom Fernando e foi ficando. Já são 9 anos de uma história de acolhimento e pertencimento, que fez todo mundo crescer um bocado.

Ronan já era capoeirista, artista de hip hop e estudava a arte circense quando soube de um dos mais antigos projetos sociais da PUC e foi lá bater na porta ou na lona, no Jardim Dom Fernando. Decidiu participar em um contrato temporário de seis meses para a educação de crianças e adolescentes da região, vendo neles o mesmo menino que ele foi, o sorriso largo, os olhos esperançosos e um jeito de se virar diante das dificuldades da vida.

“Me identifiquei com a comunidade, com a criançada e com os adolescentes”, conta ele, que acabou ficando e hoje é arte-educador da PUC. Ronan desenvolve atividades de capoeira, percussão e arte circense na Escola de Circo.

Para estar com os educandos, além do conhecimento teórico e prático, Ronan leva para a escola todos os dias as memórias da mãe, da avó e da prima, figuras que o disseram para desafiar o destino e criar uma realidade diferente para si e para quem estivesse por perto. Que o diga Eloá, que ouviu várias vezes do Ronan que o lugar dela é onde ela quiser. E está seguindo em frente. “Se tem um palhaço, tem que ter uma palhaça. Tenho autonomia para trabalhar isso no circo”.

Foi assim que Ronan acolheu a PUC e foi acolhido como arte-educador. É no seu trabalho diário que os meninos e as meninas encontram apoio, inspiração para serem criativos, autônomos e felizes. O circo social, inspirado em Paulo Freire, se torna realidade diária nas oficinas e na troca que Ronan tem com seus educandos. “Eu trabalho hoje com a realidade, tenho os pés no chão, e sei que tem um lugar bem bacana, bem no cantinho do coração, onde a gente está”.

Neste período de distanciamento social, como toda a PUC Goiás, Ronan foi pra casa e foi de coração apertado, sem saber o que ia acontecer com suas turmas, com quem iam ficar e de que forma iam se virar durante a pandemia. Mas se juntou à equipe do Circo para garantir cesta básica às famílias apoiadas pelo projeto e ficou firme para os educandos.

“Eu trabalho hoje com a realidade, tenho os pés no chão, e sei que tem um lugar bem bacana, bem no cantinho do coração, onde a gente está”.

Ronan de Souza, arte-educador

Quando fala disso, ele perde um pouco do seu sorriso, segura as lágrimas e respira. O circo não é só bonito, como ele diz. Também tem tristeza, tem saudade, tem histórias que precisam ser superadas. Nas ruas em volta da escola, Ronan encontra os seus meninos e meninas, que querem voltar para o picadeiro, que querem voltar para o malabarismo.

Ele diz calma pra eles e pra si mesmo, como aprendeu nas brincadeiras de infância em que dizia pra si: “calma, Ronan, você vai conseguir”. Na universidade da vida, Ronan sabe que precisamos respirar e que o que fazemos no circo ou na sala de aula leva tempo pra se concretizar. A saudade foi sendo amenizada com aulas on-line para a criançada onde a prioridade é manter o vínculo. Para quem não tem como ter acesso, kits de exercícios são entregues em casa.

Nada de artes muito elaboradas ou que deixe os educandos em situações perigosas, mas sobretudo o olhar de reconhecer o outro, suas ideias, seus desejos e seus sonhos. Um olhar que o Ronan trouxe para a PUC e que faz parte dos 61 anos da universidade.

“São 61 anos de história, de luta e de resistência. Começou pequenina, mas com amplitude. Tem suas contribuições na sociedade goiana, no Brasil e no mundo afora. Tem pessoas que só chegaram ao mercado de trabalho por causa da instituição”.

“Vamos andar junto, segurar a mão do outro, acreditar no trabalho de cada um e respeitar”

Ronan de Souza


Ronan se sente na PUC reconhecido na autonomia para desenvolver as atividades e para acreditar em um outro mundo possível. “Vamos andar junto, segurar a mão do outro, acreditar no trabalho, no trabalho de cada um e respeitar”. A palavra de Ronan para a PUC é gratidão. A palavra da PUC para Ronan não poderia ser outra, gratidão.

Confira os vídeos comemorativos dos 61 anos da PUC Goiás aqui.

(Entrevista: Carla Oliveira/ Fotos: Weslley Cruz)