Sexta-feira 13: dia de aprender a ler

O dia 13 de março foi marcado como o começo para a dona Galvina Santos Rodrigues, 93 anos. Viúva desde os 28 anos, ela casou muito jovem, criou praticamente sozinha os filhos e nunca teve a oportunidade de aprender a ler. O marido engenheiro chegou a ensiná-la operação de soma e a assinar o próprio nome. Mas as receitas nos livros, os bilhetes dos filhos, as mensagens no celular, nada disso nunca foi lido por dona Gabi, como gosta de ser chamada.

Foi o filho Juarez Rodrigues, egresso do Direito, quem viu a notícia no jornal. Ele viu na oportunidade a chance da mãe finalmente aprender a ler. Ela será colega de outros 80 educandos, adultos com mais de 25 anos.  O projeto de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos do Projeto de Educação e Cidadania (PEC) começou nesta sexta-feira, 13, na Escola de Formação de Professores e Humanidades (EFPH).

A aula inaugural reuniu os novos educandos, voluntários e professores. A temática da cidadania marcou a conversa do grupo. “Esse projeto tem como perspectiva a cidadania. Não é só ensinar a escrever melhor, mas a entender os processos sociais de forma a tornar a pessoa mais participativa na comunidade”, explica a coordenadora do Programa de Direitos Humanos, Núbia Simão. As aulas são ministradas por alunos voluntários dos cursos de graduação. “Há uma percepção de uma realidade diferente que ele desconhece, de uma pessoa que tem baixo letramento ou letramento irregular e uma invisibilidade”, explica ela.

Esta foi a situação que chamou a atenção da Iorrana Maia, aluna de Jornalismo, que se interessou pelas aulas de alfabetização. A ideia de que parte da população não pode ler as notícias que ela um dia irá produzir a angustiou. “Eu não sabia que tinha tantas pessoas assim, deve ser muito difícil viver em um ambiente que a gente recebe tantas informações  e eles não conseguem nem sequer ler”.

O curso de alfabetização de adultos é gratuito, durante todo semestre. Os encontros semanais são realizados na Escola de Formação de Professores e Humanidades. Segundo a professora Patrícia Loures, coordenadora do PEC, este é um trabalho muito gratificante e que permite a partir de uma metodologia diferenciada uma inserção destes adultos no mundo das letras e do conhecimento. Já são nove turmas que participaram do projeto.