Jornada dá visibilidade à cultura indígena
Atração no Memorial do Cerrado, especialmente na Aldeia Timbira, a Semana dos Povos Indígenas proporciona um encontro do público com a cultura indígena. Além do espaço que favorece a interação com as etnias presentes – apinajané, krahô, karajá, tucano, krenak, tupinambá, baniwa, entre outras – os visitantes da Jornada da Cidadania podem assistir às apresentações de canto, dança, produção de artesanatos e outras especificidades da cultura indígena. Com o tema Biodiversidade, culturas e tecnologias como resistências contemporâneas, o evento teve início no dia 24 e continua até o dia 26, com atividades na Aldeia, Centro de Convenções PUC e mesas-redondas no galpão do Memorial do Cerrado. Mostra de filmes, oficinas, exposição itinerante e seminário enriquecem a programação.
De acordo com a profa. Verônica Aldê, da comissão organizadora, a Semana é um momento para dar visibilidade à luta dos povos indígenas no Brasil: “os rios e alimentos estão sendo contaminados e a sociedade precisa perceber que eles são guardiões desta biodiversidade. As únicas reservas que nós temos são as unidades de conservação e os territórios indígenas quilombolas que estão sendo ameaçados por interesses econômicos que passam em cima da Constituição”, declarou. O tema do evento também vai ao encontro da Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano que propõe uma discussão sobre os biomas brasileiros. Toda a programação da Semana está sendo transmitida ao vivo por acadêmicos do curso de Jornalismo da PUC Goiás, por meio de uma rádio instalada na própria aldeia, com a realização de entrevistas e veiculação de músicas indígenas.
Direitos indígenas
A indígena Letícia Krahô, estudante do curso de Antropologia da UFG, participa do evento e vê a Semana como uma oportunidade para potencializar a voz e a luta dos povos indígenas por direitos. Sua comunidade, situada no município de Goiatins, no interior do Tocantins, fica a 1400 km da capital goiana, local onde escolheu para estudar uma graduação, para quando formada poder retornar e contribuir para as causas do seu povo. Atualmente esta comunidade krahô abriga cerca de 3 mil indígenas: “ é um povo isolado, porque na maioria das aldeias não existe eletricidade. Mas vejo isso como um ponto positivo – a eletricidade é boa, mas atrapalha na convivência da aldeia, nas nossas cantorias e músicas. É uma aldeia afastada, mas que preserva muito a cultura”, afirmou.
A temática dos direitos humanos e territórios indígenas também estão sendo discutidos no evento. De acordo com o procurador da República Wilson Rocha Assis, que prestigiou a Semana, o Brasil vive um momento político delicado em que setores da sociedade se mobilizam para desconstruir direitos que já foram consolidados na Constituição de 1988. “Os povos indígenas do Brasil estão atentos a essa realidade e é necessário que a academia esteja refletindo sobre esse momento difícil pelo qual passa a sociedade brasileira, em especial o direito dos povos indígenas”, afirmou o procurador. Ele pontuou alguns desafios para os próximos anos, entre eles, o reconhecimento efetivo dos indígenas como seres humanos plenamente capazes de gerir suas vidas, por terem um jeito próprio de perceber a natureza e a lidar com ela.
“Temos no campo conflitos intensos relacionados ao agronegócio em áreas indígenas, de preservação ambiental, então é preciso que a sociedade avance no reconhecimento desses direitos sociais e estabeleça um diálogo respeitoso com os povos indígenas”, pontuou. Segundo ele, a academia exerce papel importante ao dar visibilidade a esses povos, uma realidade que está muitas vezes nos rincões do País: “são regiões de difícil acesso, falam uma língua diferente e vivem de forma diferente. E é seu papel dar a conhecer essas realidades diferentes que fazem parte do Brasil, que enriquecem essa cultura e sua diversidade social”, concluiu.