Saúde da população negra é tema de curso introdutório de liga acadêmica
Na última quinta-feira, 10, a Liga Acadêmica de Atenção à Saúde da População Negra (LAASPNE) realizou seu curso introdutório nas Saltas Multiuso (Área 4).
A coordenadora e orientadora, professora Jamilly Dias explica que o objetivo da Liga é promover a conscientização sobre a saúde da população negra por meio da capacitação acadêmica. “A gente vai capacitar essas pessoas, trabalhadores do sistema de saúde, alunos da graduação, alunos de pós-graduação também, acerca de todos os fatores que englobam a saúde da população negra. E a Liga tem um caráter de ensino, pesquisa e extensão”, reforça.
O evento contou com a presença de 30 inscritos e representa um projeto multiprofissional, voltado para cursos da área da saúde, porém não impede que alunos de outros cursos possam fazer parte. Vale destacar que a Liga possui integrantes dos cursos de Psicologia, Enfermagem, Serviço Social e Medicina.
Ainda sobre o objetivo da iniciativa, a orientadora relata como um projeto para trabalhar temas étnicos e raciais para combate ao racismo. “A gente sabe que essas lutas, elas são importantes dentro dos espaços acadêmicos e a nossa intenção é, além da universidade, trabalhar mesmo as questões que voltam ao racismo”, completou.
Participação além fronteiras
Aluna de Enfermagem, Gemima Simprime, de 27 anos, que veio do Haiti para estudar e hoje faz parte da Liga, relata que por ser uma mulher negra, sabe como é importante discutir sobre a temática. “Sou uma mulher negra. Eu sei quanto a discriminação faz parte…Todos os lugares que a gente for tem isso. E a gente está trabalhando junto para ampliar e abrir a mente da população negra sobre isso. A gente pode ir além de tudo e conquistar muitas coisas e, às vezes, não dar moral por algumas coisas que as pessoas falam sobre as pessoas negras”, afirmou.
Longe do país, Gemima vê na liga uma forma de estar e ajudar os iguais, pois para ela a liga é muito mais do que um projeto acadêmico, é um lugar de ajuda. “Essa Liga, principalmente eu que sou do outro país, fica mais perto de algumas pessoas que eu sei que se identificam comigo e que me mostram que estão ao meu lado para me apoiar, me orientar sobre o meu estudo. Minhas colegas, as pessoas que fazem parte da Liga junto comigo, me orientam e me ajudam sobre muitas coisas que eu não sei”, completou.
Além da Gemima, a aluna do 7° período do curso de Serviço Social, Ana Paula Carvalho, de 24 anos, uma das diretoras da Liga, conta que um dos motivos para participar da iniciativa foi o medo e o não se reconhecer. “No meu curso, apesar de ter outras pessoas pretas, às vezes, por virmos de lugares muito diferentes, tinha uma defasagem, e quando a Jamilly me chamou para fazer parte, eu falei, agora é o momento de levar isso para o meu curso também, pras pessoas que estão todos os dias comigo, e para levar para outra pessoas. Eu acho que é um espaço que eu tenho a oportunidade de me reconhecer e também de me aprimorar”, enfatizou.
A convidada para conversar sobre a saúde da mulher negra, a ginecologista e obstetra Ana Paula Borges Santos, falou sobre a importância de abordar o tema em conversas acadêmicas. “O racismo está muito entremeado nas nossas relações sociais e abordar esse tema especialmente com a ótica do gênero é muito importante para essa reflexão e essa luz de trazer uma formação mais humanizada, pensando nos aspectos sociais que determinam a saúde dos indivíduos”, completou.
Texto: Nívia Menegat, estagiária da Dicom