PUC promove ação social no Assentamento Buenos Aires
Dentro da programação da VIII Jornada Mundial dos Pobres, a PUC Goiás promoveu no último sábado, 23 de novembro, uma ação social destinada às 80 famílias residentes no Assentamento Buenos Aires, em Aparecida de Goiânia.
Com mais de 20 cursos de graduação envolvidos, a universidade prestou atendimentos gratuitos nas áreas jurídica, da saúde, meio ambiente, assistência social, circuito infantil, além de levar doações de alimentos, mudas de árvores frutíferas, absorventes, roupas, calçados, móveis, kits de higiene bucal e enxoval para gestantes.
Coordenadora de apoio pedagógico da instituição, a profa. Luciana Alves Machado explicou que a ação, realizada em parceria com o Ministério Público, envolveu a esfera científica e solidária. Vale destacar que todos os atendimentos foram levados a partir das demandas da comunidade.
“Trouxemos informações que são muito importantes para o dia a dia: como escovar os dentes, orientações sobre vacinas, como cuidar do animal, como descartar o lixo, além da parte solidária mesmo que é a doação de tudo isso que está chegando. A gente veio trazer o conhecimento para transformar essa comunidade, porque não adianta a gente vir aqui, trazer alguma coisa e ir embora”, enfatizou.
Assistência jurídica
Com atendimentos durante todo o sábado, o Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) participou do evento com sua equipe de professores, advogados e estudantes para prestar assistência jurídica nas áreas de direito trabalhista, da família, previdenciário e criminal.
À frente dos atendimentos, o prof. Christian Abrão de Oliveira fez um balanço das principais demandas detectadas junto à comunidade, muitas delas envolvendo o reconhecimento de paternidade.
“O grande ponto que a gente percebe dessas pessoas é que elas não têm acesso à justiça. Vou dar um exemplo: o atendimento previdenciário, eles não conseguiam o mínimo, que era ligar no INSS para pedir o benefício, então tivemos que ensinar a ligar no 135. Ensinar a requerer o direito é uma coisa muito basilar que acontece aqui nesta comunidade”, relatou.
Para os estudantes, o prof. Christian destacou que o momento foi uma oportunidade para compreender a dinâmica da prática jurídica.
“A vida jurídica não é atrás de um escritório, com ar-condicionado, vivendo naquele mundo de fantasias. Isso aqui é a realidade e o trabalho de massa que o país precisa”, completou. Vale destacar que o NPJ atua com parcerias, entre elas, o Ministério Público, Justiça Federal e Tribunal de Justiça, por meio do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec).
Circuito infantil
Distribuição de guloseimas, atividades com massinha, pintura facial e de cabelo foram algumas das atividades realizadas com as crianças da comunidade. Voluntárias da Coordenação de Extensão, as acadêmicas Letícia Queiroz (Psicologia) e Suzana Alves (Arquitetura) foram algumas das estudantes que atuaram nesta frente. “A gente também está oferecendo histórias em quadrinhos para as crianças poderem tanto criar a própria história, quanto escrever em cima de uma história já feita para exercer a criatividade delas”, contaram.
Em interface com sua área de formação, elas falaram sobre a importância da ação solidária para a futura atuação profissional. “Eu acredito que na arquitetura, como é um curso muito multidisciplinar, a gente trabalha desde o lado psicológico até o lado construtivo mesmo. Então estar aqui é muito interessante, porque a gente vê na prática, a gente sente na pele qual é a necessidade dessas pessoas, inclusive no lado arquitetônico, não só no pessoal. Ver as telhas, ver o que eles usam para fazer as casas, sentir o calor que eles sentem, eu acho que é muito interessante para a gente poder criar soluções no futuro pensando neles mesmos”, analisou Suzana.
Atendimento veterinário
Na parte de promoção da saúde animal, participaram professores e estudantes do curso de Medicina Veterinária. Na ocasião, foram aplicadas vacinas contra raiva e vermífugos nos animais por via oral ou injetável. As ações foram supervisionadas pela profa. Maria Ivete de Moura, coordenadora do curso e pelo responsável técnico da Clínica Escola de Medicina Veterinária, Iago Martins de Oliveira.
Em conjunto com o curso de Zootecnia, o colegiado também arrecadou cestas básicas, roupas e brinquedos para as crianças. “Faz parte de uma das habilidades e competências gerais do curso que os estudantes tenham convivência com os diferentes tipos de realidades, com os diferentes nichos de populações e com diferentes classes sociais para eles compreenderem o contexto do nosso país também. E essa convivência envolve compreender um pouquinho o cantinho do outro”, declarou a profa. Maria Ivete.
Na área de saúde humana, foram realizadas ações diversas, entra elas, orientações sobre higiene bucal, doenças sexualmente transmissíveis, teste de glicemia , informações sobre diabetes e demais encaminhamentos.
Também integraram o panorama de ações, atividades de escuta e acolhimento da pessoa humana, entre elas, oficinas de promoção da saúde mental e desenvolvimento infantil, rodas de conversas sobre a criminalidade juvenil, identidade étnico racial e autoestima.
No âmbito do meio ambiente, a comunidade recebeu orientações sobre o descarte correto do lixo e demonstrações de técnicas de plantio, manejo do solo, irrigação, controle de pragas e implantação de hortas escolares.
Acadêmica do curso de Agronomia, Nikoly Mendes Rezende distribuiu mudas de plantas frutíferas, entre elas, uva, mexerica, boldo, caju e amora, cujos frutos estarão, literalmente, na mesa da comunidade, contribuindo para o acesso aos alimentos, além de ser uma contribuição para o meio ambiente.
Ao fazer um paralelo da ação com a missão do curso, a jovem pontuou: “A agronomia visa a prosperidade da população, pelo menos ao meu ponto de vista. Este contato direto com pessoas nessa situação onde moram, tão próximo da natureza, a gente aprende mais com eles do que eles aprendem conosco. É uma troca muito boa e que nos traz o conhecimento na prática”.
Devolutiva da comunidade
Líder da comunidade e primeira moradora do assentamento, Joyce Alves Ventura deu uma devolutiva à comunidade acadêmica sobre os atendimentos realizados no local. “Receber a todos vocês, em um evento tão grande desse, com tantas famílias sendo contempladas, é muito gratificante, porque todo tipo de ajuda que vem, ela é muito importante”, relatou.
Natural de Hidrolândia, interior de Goiás, mas criada no Tocantins, Joyce mudou-se para a região de Aparecida de Goiânia há oito anos em um contexto de muita vulnerabilidade e instalou-se no local onde está situado o assentamento por não ter condições de arcar com aluguel.
Procurada por um veículo de comunicação que divulgou sua história na TV aberta, Joyce recebeu 26 cestas básicas no mesmo dia devido à repercussão da reportagem naquela época. Generosa e sem pretensões de guardar todos aqueles itens para si mesma, ela partilhou os alimentos com outras pessoas que, assim como ela, enfrentavam a mazela da fome. Aos poucos, outras famílias deslocaram-se para o local em busca de um lar. Atualmente 80 famílias vivem no Assentamento Buenos Aires.
Emocionada com a repercussão da campanha e de todos os benefícios que foram levados até lá, dos alimentos não-perecíveis às ações de orientação, a líder da comunidade completou: “eu me sinto privilegiada. Primeiramente por Deus, por Ele ter me dado esse dom de poder acolher e ajudar as pessoas. E eu tenho muito a agradecer a todos. A partir da hora que tem alimento em casa, tem criança feliz. Foi muito importante a vinda da universidade, a gente agradece de coração mesmo, porque vai ajudar muitas e muitas famílias que moram aqui”, disse.
Outra moradora da comunidade, Fabíola Viana Cardoso, mãe de dois filhos é natural do Tocantins e veio com o marido de mudança para Goiânia em busca de oportunidades. Residente no local há cinco anos, ela falou sobre como a comunidade evoluiu nos últimos anos graças às doações que recebe.
“É muito bom, porque agora a gente está finalmente sendo reconhecido, porque antigamente aqui nem existia, assim, para várias pessoas. Quando eu mudei para cá, tinha só essa ruazinha, aquela grande mata, tinha um frigorífico lá embaixo, aí com o passar do tempo foi evoluindo bastante. Aí começamos a receber várias doações e começamos a ser vistos pela sociedade de uma forma positiva”, disse.
Vale destacar que todas as escolas da universidade estiveram envolvidas na iniciativa, além dos programas e projetos extensionistas e a Pastoral da Universidade.
Contexto das ações
A iniciativa integrou a programação da VIII Jornada Mundial dos Pobres, que movimenta a agenda acadêmica de novembro a dezembro de 2024 com o objetivo de responder ao apelo do sumo pontífice Papa Francisco e da Arquidiocese de Goiânia para promover a atenção, o cuidado e a promoção das pessoas em situação de vulnerabilidade.
A Jornada, que aborda o tema Ouve meu clamor e o lema A oração do pobre eleva-se a Deus (c.f Eclo 21,5), oferece visitas às comunidades, arrecadação de alimentos não perecíveis e itens de higiene pessoal, além de debates, oficinas e eventos científicos que abordam a temática da cultura do encontro e da responsabilidade social da PUC Goiás, incentivando a defesa dos valores cristãos e o compromisso com a dignidade humana.
Fotos: Weslley Cruz