Protagonismo juvenil pauta roda de conversa de educandos com Síndrome de Down/T21

O Projeto Alfadown reuniu educandos, familiares e voluntários da iniciativa na tarde desta quinta-feira, 20 de março, no auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades (Área 6) para um bate-papo sobre o protagonismo juvenil. A conversa, conduzida pelas professoras Luciana Novais e Renata Barreto, contou com a participação de quatro educandos da iniciativa, que compartilharam com a plateia seus hobbies, rotina de estudos e trabalho e sonhos.

A atividade também fez alusão ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado nesta sexta-feira, 21 de março, e marcou o início da formação específica para os 105 novos voluntários que irão atuar no projeto em 2025/1.

A coordenadora do Alfadown, professora Luciana Novais, destacou a importância do encontro tanto para os educandos quanto para os voluntários que estão ingressando na iniciativa.

“Coincidentemente, hoje também é a abertura do ciclo formativo para os novos voluntários. Então, eles estão chegando agora e já têm essa oportunidade de criar vínculo com os educandos e, ao mesmo tempo, celebrar o Dia Internacional da Síndrome de Down. Esse evento é essencial para promover a conscientização sobre as pessoas com T21, sua socialização e autonomia”, afirmou.

Luciana explicou que a programação do dia foi pensada para dar voz aos educandos, que compartilharam suas vivências. “Nós convidamos jovens com T21 para que eles contem um pouco sobre suas experiências. O objetivo é que eles possam relatar como tomaram essas decisões e como lidam com suas atividades no dia a dia”, explicou.

Sobre o número de educandos participantes, a coordenadora informou que o projeto registra aproximadamente 20, além dos 105 voluntários que iniciarão suas atividades no primeiro semestre de 2025.

Transformação pela convivência

Entre os novos voluntários, Isabella Queiroz Machado Matos, estudante do curso de Biomedicina, compartilhou como o projeto impactou sua vida pessoal e sua visão sobre a inclusão. “O Projeto Alfadown, além de tudo, transformou minha forma de enxergar o mundo. Ele me tornou uma pessoa mais empática. A inclusão é algo extraordinário e estar com pessoas com síndrome de Down, conviver com elas, é uma experiência muito enriquecedora”, afirmou.

Ela explicou que, como voluntária, auxilia os educandos em atividades que estimulam sua autonomia. “Nós montamos planejamentos de atividades e, dentro dessa convivência, realizamos dinâmicas diversas. Um exemplo foi um questionário e uma entrevista sobre estilo pessoal. Nele os educandos recortaram imagens de roupas que gostariam de usar, escolhendo seus próprios looks. Isso contribui para o desenvolvimento da autonomia deles”, relatou.

Isabella também mencionou que sua percepção sobre a T21 mudou ao longo do tempo. “Como estudante da área da saúde, sempre tive uma visão científica da síndrome, mas participar do projeto me fez entender melhor que a T21 é apenas um cromossomo a mais. Cada pessoa tem suas próprias diferenças, e viver essa experiência junto com elas tem sido muito especial”, concluiu.

Com a palavra, os educandos!

Foco e razão de ser da iniciativa, os educandos foram o centro das atenções do evento e compartilharam com as professoras do projeto e o público seus sonhos e aspirações. Participaram do bate-papo Vinícius Albuquerque, Sophia Lunardelli, Enzo Ferreira e Rafaela Delgado.

Faixa preta em judô, Vinícius afirmou que pratica esporte todos os dias. Ele contou que o hobby é uma oportunidade para se exercitar e interagir com os amigos. Também compartilhou sobre sua rotina de trabalho: “Fui promovido e o trabalho aumentou. Hoje cuido de muitas crianças”, declarou.

Representante dos educandos, ele destacou sua satisfação com o projeto e deu as boas-vindas aos novos voluntários. “No Alfadown a gente aprende muito. A gente também sai da PUC, vai para o shopping comprar roupas. Lá comemos hambúrguer e tomamos refrigerante, só a galera jovem”, contou, arrancando risadas da plateia.

Natural de São Paulo, Sophia partilhou a experiência de ter viajado sozinha pelo Expedição 21, programa de imersão para pessoas com síndrome de Down, com foco no desenvolvimento da autonomia e da tomada de decisão na vida adulta. “Viajei de avião com meus amigos, a gente fazia aulas. Foi uma experiência incrível de independência. Eu acordava muito cedo, mas venci”, relatou.

Acadêmico do curso de Letras da PUC, Enzo disse que a graduação lhe auxilia na arte de ser poeta. Durante o evento, ele apresentou seu primeiro livro de poesias e declamou um de seus poemas para o público. Ao partilhar sua experiência na universidade, ele destacou: “Sou espontâneo, participo das aulas e me sinto acolhido”. O jovem também agradeceu a presença do professor de apoio João, que estava na plateia.

Rafaela fez um relato de empreendedorismo e paixão pela arte. Ela criou, juntamente com sua mãe, um grupo chamado “Teatro para Todos”, que acolhe pessoas com e sem deficiência. “Minha mãe é minha sócia”, enfatizou.

Ela explicou que seu trabalho no grupo envolve a interpretação, projeção da voz e outras técnicas teatrais para melhor desenvoltura dos atores. Durante o bate-papo, colocou essas habilidades em prática ao apoiar os colegas, dirigindo-lhes palavras de incentivo.

A educanda também deu mais detalhes do projeto: “Minha mãe me ajuda bastante com neurociências e psicopedagogia. Ela trabalha com neurodesenvolvimento, coordenação motora, essas coisas”, explicou.

Ao serem questionados por uma voluntária se pretendiam, como Enzo, cursar uma graduação no futuro, as respostas já estavam na ponta da língua: Vinícius almeja cursar Educação Física e Sophia e Rafaela pretendem fazer Artes Cênicas.

Com  mais de 20 anos de história, o Alfadown é um projeto de extensão vinculado ao Programa de Referência em Inclusão Social (Pris/ Cdex/Proex) da universidade. Sua missão é integrar a comunidade acadêmica e a comunidade em geral, com foco no apoio à aquisição da linguagem escrita das pessoas com T21 e no desenvolvimento de habilidades sociais a fim de favorecer a participação social dos sujeitos.

Fotos: Weslley Cruz