Palestra reflete sobre controvérsias dos 60 anos da ditadura brasileira

O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História da PUC Goiás promoveu, nesta segunda-feira, 6, mais uma edição do Ciclo de Debates, com o tema “A ditadura faz 60 anos – controvérsias historiográficas”. O evento contou com a presença do professor doutor Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense, renomado historiador e autor de diversos livros sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil. Além de sua contribuição acadêmica, Daniel Aarão Reis participou ativamente dos movimentos contra a ditadura, como ele mesmo enfatizou durante sua palestra, tendo sido preso, torturado e exilado político.

A abertura do evento foi conduzida pela professora doutora Thais Alves Marinho, coordenadora do Programa, com a presença da professora doutora Lysa Bernardes Minasi, coordenadora de Pesquisa da PUC Goiás; do professor doutor Cristiano Arrais, coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás, parceira nesta edição; e do professor doutor Roberto Abdala, também da UFG, que atuou como mediador do debate subsequente à palestra.

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História, Thais Marinho ressaltou a importância de atividades como o Ciclo de Debates para manter viva a memória e promover reflexões críticas sobre a ditadura. “A gente vem ao longo do ano organizando várias atividades para relembrar, revisitar esse tema e discutir a partir das implicações políticas que a gente vive até hoje em função desse evento histórico, que na verdade é um estado de exceção que teve marcas tremendas na história de vida de muitas pessoas e da própria nação brasileira”, afirmou Thais.

Ela destacou ainda a relevância de trazer especialistas renomados para dialogar com os estudantes e aprofundar o entendimento sobre o período. “Hoje a gente traz o professor Daniel Aarão Reis, que é uma referência na temática. Ele viveu, tem uma experiência dentro da ditadura e pode testemunhar aqui pra gente um pouquinho dessa história que ficou no passado, mas que ainda é tão presente”, completou a professora.

Durante sua palestra, Daniel Aarão Reis destacou a importância de situar a ditadura em uma perspectiva de longa duração. “De modo geral, os estudos da ditadura se concentram apenas no período entre a sua implantação, que não é exatamente em 1964, e seu fim. Mas, a meu ver, é muito importante compreender a ditadura na longa duração. O Brasil é um país com fortes tradições autoritárias e conservadoras, e é preciso entender essas tradições para compreender a ditadura”, afirmou o professor.

Reis também enfatizou a necessidade de analisar as dimensões internacionais da ditadura, contextualizando-a no cenário das décadas de 1960 e 1970, quando uma onda de ditaduras de direita se espalhou pela América do Sul e Central. “O Brasil, sendo um país muito grande, muitas vezes é analisado isoladamente. No entanto, a ditadura brasileira estava inserida em um contexto internacional, e é crucial colocar o Brasil nesse panorama para entender melhor as forças que atuaram naquele período”, explicou.

Em um terceiro momento, o palestrante abordou as características da ditadura, destacando quem se opôs, quem resistiu e quem colaborou com o regime. “Muitas vezes, parece que toda a sociedade resistiu à ditadura, mas, na verdade, ela contou com muito apoio e colaboração. Compreender essas alianças é fundamental para desvendar as raízes históricas e as bases sociais que explicam a onda conservadora e autoritária que, recentemente, voltou a caracterizar o Brasil”, pontuou o professor lembrando o papel civil na ditadura.

Fotos: Wagmar Alves