Mudança climática, arqueologia e saúde pública pautam discussões do Congresso
Em parceria com a Fiocruz, a PUC Goiás promoveu, dentro da programação do X Congresso de Ciência, Tecnologia e Inovação, duas mesas-redondas na noite desta terça-feira, 15, na Sala de Defesas da Área 4, destinadas ao colegiado dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Atenção à Saúde, Genética e Ciências Ambientais e Saúde da instituição.
A primeira foi conduzida pelo coordenador da área de Saúde e Ambiente da Fiocruz, Guilherme Franco Netto, que discutiu sobre as mudanças climáticas e a saúde. Ao incentivar um engajamento social para o tema, ele declarou: “nós estamos aqui para poder enriquecer o debate e fazer com que a comunidade, tanto da PUC Goiás como também a comunidade científica de Goiânia e do Centro-Oeste possam estar se aproximando deste tema que é absolutamente presente e central da nossa vida hoje em dia”, ressaltou.
Impactos da mudança climática
Ao fazer referência à 28ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em novembro do ano passado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o professor lembrou que, pela primeira vez, um dia do evento foi destinado para a saúde da COP do Clima.
“Nós tivemos o reconhecimento de que os impactos e cuidados na saúde relacionados à mudança do clima são absolutamente centrais para as políticas e sistemas de saúde dos países. No caso do Brasil, nós temos, inclusive, com as evidências agora de 2024, infelizmente, um cenário bastante preocupante, que é dos eventos extremos, como ocorreu no Rio Grande do Sul, com as grandes enchentes e também agora com os grandes incêndios florestais, tanto no centro-oeste como em todo o Cerrado, na grande parte da Amazônia e demais áreas do Brasil”, alertou.
Todos esses fatos, segundo o pesquisador, revelam um impacto da mudança climática na saúde da população, demanda que requer uma aproximação da ciência com as políticas públicas e a sociedade como um todo.
Ao citar uma reflexão do climatologista Carlos Nobre, enfatizou: “a ciência não explica o que está acontecendo em termos de velocidade, dimensão, abrangência e frequência desses eventos”.
Ao chamar atenção para os cenários do clima no Cerrado, com seca e ondas de calor extremas que afetam os sistemas agrícolas, econômicos, ambientais e a saúde das pessoas, ele prosseguiu: “são todos os elementos que nós temos que passar a incluir nas agendas científicas, nas agendas acadêmicas, para fazer com que nós possamos nos preparar da melhor maneira possível para lidar com essa nova realidade”, concluiu.
Contribuições da Arqueologia para a área da saúde
Docente do curso de Arqueologia da PUC Goiás, o prof. Julio Cezar Rubin de Rubin apresentou, na segunda mesa, os resultados de uma escavação realizada em Serranópolis, Goiás.
“Participamos em sete etapas de campo, 210 dias de campo de escavação, numa área de 210 metros quadrados, onde nós encontramos vários vestígios de ocupação humana, tanto lítico quanto cerâmico e outros elementos e achamos também sepultamentos, uma estrutura com dez cabeças humanas e encontramos sedimentos que trazem uma série de informações a respeito das características físico-químicas desse sedimento todo, que formam o que a gente chama de registro arqueológico”, explicou.
De acordo com o prof. Julio, os micro-organismos encontrados nos sedimentos de aproximadamente 12 mil anos são alarmantes para a saúde e com estes dados em mãos, o pesquisador trouxe uma relevante contribuição para a comunidade científica.
“Isso nos permite fazer uma amarração entre como a arqueologia pode fornecer subsídios para as pesquisas relacionadas com a saúde. A saúde a gente não trata só no momento atual, ela vem desde os tempos mais profundos. E esses grupos humanos viveram naquela região desde 12 mil anos, talvez até mais antigos ainda, já com problemas de saúde, como a gente tem colocado. Então isso é cítrico na história da humanidade”, analisou.
Ao contemplar as mudanças climáticas na contemporaneidade, o professor afirmou ser um período “tenso para todo mundo e desafiador para pesquisadores”. Ao citar dados do INPE e outros institutos que mostram um aumento de 3 graus em alguns lugares no Brasil na última década, o professor explicou como isso interfere nos processos climáticos.
“Uma área onde você tem um semiárido hoje com 800 milímetros de precipitação e se faltar precipitação para o biométrico e cair para 500 vai ser árido e isso impacta na questão hídrica e pode ter um processo de desertificação. Nós vamos ter que nos adequar a tudo isso, então é um momento extremamente desafiador”, refletiu.
Lições da história geológica
O pesquisador ainda reforçou que o tempo geológico mostra várias extinções ao longo do tempo, algumas delas causadas por mudanças climáticas, outras por meteoros, deriva continental e surgimentos de cordilheiras.
Ao analisar essa linha do tempo, o prof. Julio trouxe a seguinte análise: “talvez o único grande problema em que o causador vai conviver com a causa somos nós. Eu sempre brinco agora, a única coisa boa da extinção dos dinossauros foi que favoreceu a proliferação dos mamíferos, que somos nós. Essa é uma piada de mau gosto, mas que mostra que a história da humanidade tem essas coisas cíclicas. É a seta do tempo e o ciclo do tempo, como dizia o Stephen Jay Gould”, refletiu.
Projetos para o futuro
Coordenadora da atividade juntamente com a profa. Marina Aleixo, a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, profa. Priscila Valverde declarou que as mesas-redondas são resultado de uma parceria firmada há cerca de 1 ano com a Fiocruz.
“A gente procura discutir alguns aspectos para fazer propostas de projetos que sejam relacionados a esse tema e que a gente consiga conduzir aqui na PUC por meio dessa parceria que é bem profícua, dividindo as tarefas e as habilidades de cada um. A ideia é discutir os dois pilares, a saúde e a arqueologia, para gerar projetos e pesquisas futuros”, explicou.
(Fotos: Weslley Cruz )