Memorial do Cerrado encanta gerações no Dia do Folclore

Ao chegarem ao Memorial do Cerrado, os visitantes se depararam com músicas cantadas em coro e em diferentes ritmos e sotaques. As canções que foram apresentadas ali não podem ser encontradas nas plataformas de streaming musical, comuns nos dias de hoje, e também não sou ouvidas com facilidade no dia a dia dos habitantes do Cerrado.

Os sons e ritmos ligados às nossas tradições foram apresentados em um pequeno palco durante todo o dia naquele 29 de agosto. Crianças, adolescentes, adultos e idosos também puderam descobrir ou recordar cenários e culturas ao percorrer a imensidão do Memorial, localizado no Câmpus II da PUC Goiás. O dia com entrada gratuita, comidas típicas, oficinas de vivência e todos os espaços abertos para visitação, foi resultado dos esforços para a comemoração do Dia do Folclore, originalmente celebrado no dia 22.
Para a ação, além de excursões de escolas públicas de Goiânia e de cidades próximas, da Apae da capital e de grupos menores, foram abertos os portões a todos que quisessem participar da imersão. Os sons e os cheiros do Cerrado soaram convidativos até mesmo para pesquisadores e estudantes de outros estados e países, que estavam participando do Zootecnia Brasil, o maior evento da área que ocorria no Centro de Convenções da universidade naquele dia.

Ao andar pela vila cenográfica do Memorial, foi possível ouvir uma senhora loira e de olhos claros, vestida de calça, sapato e crachá dizer apontar para uma das casas e dizer para as colegas que a acompanhavam: “eu me lembro de tomar café assim, coado no pano, com a minha avó”. Na casa, outra senhora, meio atriz e meio dona da casa servia o café (foto) aos visitantes que por ali passavam.

Vindo de Curitiba (PR), o estudante de Zootecnia André Zanon confessou surpresa. “É bacana você conhecer um pouco da história dessa parte do Brasil, que muitas vezes a gente nunca ouve falar, nunca aprende. Estar aqui e vivenciar isso é muito legal”, disse, enquanto andava por parte da fazenda. Um pouco depois, ali também, um grupo de pesquisadores portugueses se juntou ao grupo de descendentes portugueses que faziam a Dança da Fita, cantando, tocando tambores e dançando em círculo. “Claro, é uma oportunidade singular de apresentar ao país e ao mundo aquilo que nós temos de bonito em nossas expressões culturais”, frisou o reitor da PUC Goiás, Wolmir Amado.

Intergeracional

Se os cientistas e acadêmicos circularam curiosos pelo espaço, as crianças, maioria absoluta no dia, encheram o complexo cultural de vida. Gritos, palmas, risadas e perguntas, muitas perguntas, eram ouvidas em todos os cantos. Em grupos, acompanhados de seus professores, eles passearam pelo museu, pelos espaços cenográficos, pela trilha e aproveitaram as feirinhas de comidas típicas, artesanato e as atrações culturais do dia.

Estudante do 8º ano do ensino fundamental em um colégio no centro de Goiânia, a jovem Izabella Mad, 12 anos, achou divertida a surpresa dos colegas ao verem o espaço, tão diferente do resto da cidade. “Minha família tem fazenda, então eu já estava preparada. Acho legal poder vir aqui, porque é uma atividade diferente da sala de aula”.

Os dias na fazenda integram uma realidade ligada diretamente aos períodos de lazer e descanso para Izabella e a maioria dos alunos da capital, mas não para todos os que passaram pelo Memorial do Cerrado naquele dia de comemorações. Vindo de Uruana (GO), pequena cidade a 140 km de Goiânia e com pouco mais de 13 mil habitantes, Lúcio Máximo, 11 anos, teve na visita à capital o seu momento de lazer – e se surpreendeu por encontrar um espaço assim em meio a tantos prédios e asfalto. Apesar de morar na zona rural, as fazendas e as ruas de sua cidade são diferentes, mais urbanas, explicou. O museu com animais empalhados e fósseis também impressionou. “A minha cidade não é assim, mas eu gostei muito de tudo aqui”.

Mais que um passeio, a vivência com as milhares de crianças e jovens representa a esperança de avançar para o futuro sem perder as expressões culturais que guardam nossa história. “A história é constituída ao longo dos séculos, então é decisivo que a criança esteja aqui. Não só por razões lúdicas, por ser bonito, o que já é muito significativo porque atrai, mas, principalmente, porque a sua presença é garantia da afirmação de uma identidade cultural”, frisou o reitor. “Se nós conseguirmos que as novas gerações não sigam em frente desandando em uma cultura de massa, mas que saibam observar as riquezas da tradição, isso será muito decisivo não só para elas, mas para o projeto civilizatório, para todos nós”, continuou.

Diretor do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), que coordena do Memorial do Cerrado, José Rubens Pereira aproveitou definiu o dia em que o complexo cultural não cobra a entrada de nenhum de seus visitantes como um momento ímpar de alegria e emoção. “Este memorial foi criado também para que a gente gerasse essa alegria, trouxesse as escolas, para que as crianças pudessem conhecer quais são essas manifestações culturais que estão sumindo”, contextualizou. “Quando você vê pessoas que ainda nem pensavam que isso existia, assim como também aquele povo antigo que a gente vê chorando, revivendo a sua memória… é um dia de alegria, de festa”.

Fotos: Ana Paula Abrão