Espetáculo de fim de ano da escola de circo enaltece a cidadania

Trazendo um encontro entre a arte circense, o cordel, as danças de rua, a poesia e o teatro para falar de políticas públicas e de cidadania, a Escola de Circo Dom Fernando (ECDF) apresentou na noite de ontem, 21, seu espetáculo final de 2019, com a presença de familiares dos educandos e da comunidade local do Jardim Dom Fernando I, na região Leste de Goiânia. Todos os 110 educandos da escola participaram da organização do evento, sendo que 80 deles se apresentaram para o público, em três datas neste mês de novembro.

Ligada ao Instituto Dom Fernando (IDF) da PUC Goiás, a instituição trabalha a autonomia e a formação humanística de crianças e adolescentes da região, por meio da arte-educação. Há três anos, o que é ensinado na escola é organizado em forma de espetáculo pelos próprios educandos, com a supervisão e o apoio dos arte-educadores. “Damos a eles voz ativa nesse processo. Cada apresentação é um exercício de cidadania”, reflete a diretora do IDF, professora Elizabeth Bicalho. A professora lembra ainda que ao contrário de uma escola regular, a escola de circo se utiliza do ensino da arte para pensar uma educação transformadora não só para o futuro dessas crianças e adolescentes, mas para o seu presente. “Nossa intenção é prepará-los para o aqui e o agora também, e não só para um projeto de futuro. Trabalhamos a realidade de hoje, que deve deve ser transformada, ser bem vivida, com alegria”, explica.

A coordenadora da escola define o projeto como “um somatório de muito empenho” e elogia o esforço e a alegria dos educandos. Já são 23 anos de ECDF. Dentre os jovens que se apresentaram no picadeiro, o pequeno Estevão Mandela, 8, se destacou pelo traje e pela postura durante a apresentação: mesmo timidamente, apresentou um cordel inteiro sobre preservação ambiental e arrancou aplausos energéticos da plateia. “Aprendi que preciso cuidar do meio ambiente, se não for agora, não vai ter como salvar depois”, nos conta, com suas própria palavras. Depois dele, outros educandos se apresentaram sozinhos ou em conjunto, para falar do direito à saúde, à educação e de respeito às mulheres e aos negros, passando por diversos temas de cidadania. Em uma das apresentações, feita só por meninas, cada uma delas segurava um cartaz com o nome de uma vítima de violência que tenha ganhado as manchetes do país. Entre os nomes, o de Ágatha Félix, 8, jovem negra morta a balas no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, em setembro. Grande parte dos educandos tem idade similar.

“Temos muita esperança nessas crianças, porque elas têm uma formação diferenciada. Terão a chance de crescer, tornarem-se líderes e ajudarem as pessoas”, frisa o reitor, que foi recebido com festa pelos jovens e educadores. Projeto mantido com o apoio da universidade, por meio do IDF e da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), a Escola de Circo Dom Fernando conta com o apoio de professores, pesquisadores e estudantes voluntários da PUC Goiás para o atendimento dos mais de 100 educandos atualmente inscritos.