Escola de Formação de Professores discute tema de redação do Enem em mesa-redonda

Considerado um desafio, o tema do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, trouxe luz a uma parcela muitas vezes esquecida da sociedade: os surdos e pessoas com algum tipo de deficiência auditiva.

Reconhecida como a segunda língua oficial do país em 2002, com a lei nº 10.436, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem sua origem no antigo Instituto dos Surdos, a partir da mistura da antiga língua de sinais do Brasil com a língua francesa de sinais. A instituição foi fundada em 1857.

“Parece uma novidade, mas é algo que vem desde D. Pedro II”, afirma a professora Edna Misseno Pires, da organização da atividade integrada de Libras 2017/2 da Escola de Formação de Professores e Humanidades da PUC Goiás. O evento reuniu acadêmicos dos cursos de licenciaturas no auditório da escola, no Setor Leste Universitário, nesta quarta-feira, 29.

“Esse tema chegou [ao Enem], acredito, porque estamos nos preparando para sermos um país bilíngue”, aposta. “A inclusão, claro, exige uma preparação bilateral. No caso das pessoas surdas, uma das questões é o domínio da Libras”, explica.

Disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia, a língua brasileira de sinais é oferecida na PUC Goiás também nos cursos de bacharelado, como optativa, e em formato de curso de extensão (curso livre), aberto à comunidade.

 

Desafios

A formação para professores e profissionais, porém, não é o suficiente para a inclusão, de fato, alerta a professora Elizabel Atayde Ribeiro, diretora do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS Goiás), entidade ligada à Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte (Seduce).

“Quase 95% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes e isso é um grande desafio. A Libras, como língua, está viva, em franco desenvolvimento, mas muitas vezes não está presente dentro do contexto familiar dessa criança”, aponta. Por isso, se fazem importantes as parcerias no processo de inclusão, diz.

Egresso do curso de Engenharia de Computação da PUC Goiás, Dheimy Tarllyson contou com a presença de um intérprete durante as aulas, mas viu na interação com seus colegas e professores seu maior desafio. “Parecia que tinha uma barreira entre nós”, lembra. “No primeiro período foi mais difícil, mas fui me adaptando e ganhando mais intimidade, mais confiança. Acabei ensinando a Libras para os colegas de turma que se interessaram, uns cinco no total, e fiz grandes amigos”, comenta.

Dheimy foi um dos convidados para falar a mesa-redonda realizada na universidade. Sobre o tema escolhido pelo Enem, o rapaz acredita ser um avanço. “É um tema que provoca. E é muito importante falar sobre isso para os ouvintes. É algo que falta na sociedade”, defende.

A sensibilização de pessoas ouvintes para a questão e a popularização do ensino de Libras (e do interesse da sociedade) foram outros pontos discutidos. Para a conversa com o público atento do Auditório da Escola e com os jornalistas que cobriram o evento, fez-se necessária a intermediação de uma intérprete.