Educação e pandemia: CF traz novos enfoques
Neste ano, a Campanha da Fraternidade da CNBB se propõe a aprofundar o tema da Educação e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). É a terceira vez que a Igreja no Brasil pauta a temática educacional em uma CF, todavia com novos enfoques, já que a discussão acompanha as demandas e desafios da contemporaneidade.
Para o secretário-geral da Sociedade Goiana de Cultura (SGC) e ex-reitor da PUC Goiás, prof. Wolmir Amado, a Campanha vigente traz uma nova discussão que busca corresponder ao seu tempo atual, com necessárias novidades e, simultaneamente, considera e incorpora uma longa caminhada pastoral já realizada pela Igreja ao longo da história.
Ele é um dos autores do texto-base da Campanha, que foi redigido por uma equipe constituída por estudiosos com vasta experiência no campo da Educação, provenientes de diversos estados brasileiros, convidados pela CNBB.
De acordo com o professor, os diferenciais em relação aos textos-base das outras duas campanhas sobre a Educação são diversos, a começar pela estrutura do documento. Ao invés das expressões ver-julgar-agir utilizadas nas versões anteriores, o texto-base agora é constituído em quatro partes, intituladas Discípulos da Palavra, Escutar, Discernir e Agir.
Neste sentido, as discussões consideram o contexto e impacto da pandemia e recebem, ainda, influência das reflexões propostas pelo papa Francisco nas suas encíclicas mais recentes e, também, pelo Pacto Educativo Global, proposto pelo pontífice.
“Também foi necessário trazer a análise sobre os impactos, implicações e consequências da pandemia para a Educação. Ainda, como referencial eclesial, o novo texto-base apresenta categorias e chaves de leitura trazidas pelas encíclicas Fratelli tutti e Laudato sí e pelo instrumentum laboris sobre o Pacto Educativo Global. Além disso, também se dá ênfase ao humanismo e à antropologia cristã; e a realidade educacional é apresentada com as suas atuais perspectivas, avanços e desafios”.
Prof. Wolmir Amado destaca os novos enfoques da nova Campanha da Fraternidade
Contribuição
Com mais de 35 anos de docência universitária e 18 anos como reitor da PUC Goiás, o professor Wolmir apresentou ao texto-base os contextos educacionais com ênfase na educação superior brasileira.
Ele faz uma referência às universidades comunitárias, às licenciaturas, ao ingresso, permanência e evasão dos jovens nas universidades brasileiras, à Educação a Distância (EAD) e à análise sobre os dados do Censo Educacional.
Ele também participou ativamente nos temas sobre Educação Básica e sobre as lições a serem refletidas a partir da experiência da pandemia.
“Entretanto, todos os temas, inclusive os temas específicos em que trabalhei, são uma construção coletiva submetida a várias reformulações. O resultado final do texto-base foi apreciado e decidido pela CNBB e, portanto, é uma proposta de reflexão exclusivamente de pertença à Igreja, apresentada com amor e generosidade a todas as comunidades eclesiais e à sociedade brasileira”, ressalta.
Campanha e comunidade acadêmica
É importante pontuar que as discussões da Campanha da Fraternidade impactam diretamente na vida acadêmica. Anualmente, a universidade constitui uma comissão institucional composta por gestores e professores, que realizam eventos para discutir a temática e mobilizar as escolas e estudantes em prol do bem comum.
Diante da nova Campanha, o ex-reitor observa que a PUC Goiás tem realizado uma “ampla e histórica contribuição pastoral, social, educacional e científica em Goiás” e a CF convoca a universidade para avançar ainda mais.
Com foco na educação integral do ser humano, ele vê na universidade um espaço destinado à formação de novas lideranças, que estejam comprometidas em promover a educação, a cultura, a ciência, a inovação, o cuidado ambiental do bioma Cerrado e o desenvolvimento humano e social na região Centro-Oeste.
“Dentre as múltiplas possibilidades, penso que podemos, no campo da educação superior, liderar uma contribuição especial e articulada junto aos jovens, os apoiando para que construam projetos de vida tecidos pela solidariedade, inclusão, espiritualidade, compromisso comunitário, espírito crítico-analítico, responsabilidade pela Casa comum, e sentido existencial”.
Esforço conjunto
É importante destacar que antes de ser apresentada oficialmente à sociedade, a Campanha da Fraternidade percorre uma longa trajetória, desde a definição do tema até a publicação do texto-base.
Resultado de um esforço coletivo, o documento começou a ser elaborado nos primeiros meses de 2021 e é fruto de diversas reuniões, que levantaram os principais assuntos a serem tratados para posterior redação.
Após a primeira versão, o documento recebeu o acréscimo de emendas e sugestões até chegar à revisão final.
O texto está disponível para download no site da CNBB.
Novo arcebispo
Empossado no último dia 16 de fevereiro, o arcebispo metropolitano, dom João Justino, iniciou uma nova missão na Igreja de Goiânia. Com a CF apresentada oficialmente à sociedade goianiense no dia 2 de março, ele faz uma reflexão sobre a missão da Campanha, considerando que o Brasil registra o número de 50 milhões de estudantes em todo o seu território, que vivem realidades bem distintas.
“Temos grandes desafios quando se toca às diversidades regionais do nosso País. E a Igreja contribui de muitos modos: na Amazônia de um modo próprio, aqui no Brasil Central de outro modo, assim como nas grandes capitais e nas periferias. Então, o zelo pela Educação está profundamente ligado ao zelo que a Igreja tem pelo amadurecimento de cada pessoa humana.
Investir na educação aproxima a Igreja de promover a pessoa humana. Neste sentido, há laços profundos entre a missão evangelizadora e a educação”, reflete.
Para dom João Justino, a educação deve ocorrer no contexto da formação humanizada
Também no papel de grão-chanceler da PUC Goiás, ele vê na Arquidiocese de Goiânia uma missão especial, já que abriga uma universidade pontifícia, que tem vínculo com o Vaticano.
“Ser responsável por uma universidade é uma tarefa da Igreja, que traz como contribuição para a própria Igreja a compreensão mais ampla das realidades humanas, sociais e políticas. Portanto, a interação é de mão dupla: a Igreja serve a sociedade, procurando oferecer uma universidade de excelência, mas Ela também recebe da universidade pela pesquisa, pelo ensino e pelos que atuam neste âmbito de contribuições muito preciosas”, complementa.
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