Docentes aprofundam discussões sobre metodologias ativas no ensino superior
Além da Reunião de Gestores, o semestre, na PUC Goiás, foi iniciado com a tradicional Semana de Integração Acadêmica e Planejamento (Siap). Reunindo diretores, coordenadores, professores dos núcleos estruturantes (NDE) e docentes de todos os 46 cursos de graduação da universidade, o evento foi aberto oficialmente ontem, em quatro eventos simultâneos: as metodologias inovadoras e participativas foram discutidas, por área, em quatro espaços da instituição.
“Cada Siap é uma construção. Ela busca trazer respostas para aquelas questões principais que foram colocadas durante o semestre e anuncia, também, um pouco do que vem por aí”, explica a pró-reitora de Graduação, Sonia Margarida Gomes. “Dessa vez, deu pra fazermos juntos”, destaca, sobre a abertura simultânea nos auditórios das Áreas 2, 4, da Escola de Formação de Professores e Humanidades e do Teatro PUC, no Câmpus V.
No evento, foi a primeira vez que o reitor da universidade participou, ao mesmo tempo, de todas as aberturas, por meio de uma videotransmissão diretamente da Reitoria. Da sala de reuniões, deu as boas-vindas aos docentes e destacou os desafios vindouros para o semestre: ao iniciar as comemorações da chegada do Jubileu de Diamante da Universiade, que será completado em outubro de 2019, a gestão quer ampliar na instituição a cultura de inovação. “Uma das ênfases que gostaríamos de deixar é que exista essa cultura conjunta da inovação no ensino”, refletiu, anunciando a meta de que 30% da metologia de aprendizado presente em toda a universidade envolva a concepção inovadora.
Modelo “falido”
Nesta 43ª edição da Siap, o tema central foi abordado por quatro docentes especialistas, de diferentes áreas: professora dra. Vera Lúcia Garcia (Unesp) para as áreas de saúde e biológicas, professora dra. Maria Feferbaum (FGV) para as áreas de direito, relações internacionais e negócios, professora dra. Maria Isabel da Cunha (UFPel) para as áreas de formação de professores, comunicação e antropologia, e o professor dr. Gustavo Henrique Donato para as áreas de computação, exatas, engenharias, artes e arquitetura.
“Achamos que o tema deveria ser aprofundado, mas fazendo um diálogo mais epistemológico também, porque as áreas do conhecimento têm suas particularidades”, justifica a pró-reitora.
Sobre a temática, os quatro conferencistas concordam: o professor, sozinho, não é o centro do processo, mas é preciso conscientizar. “Essas metodologias só fazem sentido se inseridas em um contexto de mudança e de inovação muito maior, institucionalmente falando”, destaca o professor Gustavo Donato. A mudança de mindset envolve todos os agentes do processo de aprendizado, incluindo a relação professor-aluno, “em que alunos e docentes tem que entender quais são os desafios das próximas décadas, o que estar por vir, que tipo de atuação profissional esse aluno terá, que tipo de competência precisará desenvolver”.
“Este modelo já está falido e não atende nem as instituições, nem as pessoas, nem as comunidades”, enfatiza a professora Marina Feferbaum. “O ensino participativo é muito importante para o modelo de sociedade que a gente tá hoje”, garantiu ela, lembrando da facilidade de acesso às informações disponíveis na internet.
Já estabelecidas desde o começo do milênio na área da saúde, as metodologias ativas já são entendidas na prática por parte dos cursos e graduação, mas a atuação inovadora exige a quebra de preconceitos constante para a sensibilização dos envolvidos. “Na verdade, essa metodologia é uma em que o professor trabalha mais, porque ele tem que planejar muito, tem que usar disparadores muito bons, tem que trabalhar no tempo do aluno”, exemplifica ao rebater críticas comuns como a de que os docentes adeptos ‘não ensinam’. “Quando você vem dar uma aula, você não tem essa preocupação. Se aprendeu, aprendeu. Se não aprendeu, estuda sozinho. Na metodologia ativa isso não tem espaço, eu preciso que todos os alunos desenvolvam as suas competências”, exemplifica.
A força da dúvida
Com a responsabilidade de ministrar a conferência de abertura para o grupo de docentes das humanidades, da comunicação e da arqueologia, a professora Maria Isabel da Cunha (UFPel) saiu super aplaudida do auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades.
Ao destacar o esgotamento do modelo atual de ensino brasileiro, a professora defendeu o espelhamento no modelo de aprendizagem empregado na pesquisa, alicerçado na dúvida. “Temos um modelo de conhecimento onde o perguntar significa não saber. A pesquisa já tem uma lógica inversa: ela existe por conta da dúvida”, frisa.
Em sua fala, a professora também destacou a necessidade de haver proximidade ou vivência para a existência da dúvida e, consequentemente, para o aprendizado. “É por isso que, às vezes, o professor pergunta se alguém tem alguma dúvida e ninguém responde. A imersão foi tão superficial só com aquele modelo expositivo de aula, que foi incapaz de gerar sequer dúvidas”, bate.
A doutora também lembrou a dificuldade implicita na mudança do paradigma educacional no país, até pelas limitações do sistema. “A principal mudança que precisamos é da concepção de aprendizado e isso é muito difícil, porque implica em novas crenças, na alteração do que foi historicamente reconhecido”, reflete. Ao final, traduz o que entendeu-se nos quatro cantos da universidade: “pode demorar para mudar, mas não tem mais sentido fazer o que a gente vem fazendo”.
*Feito com o apoio da jornalista Luisa Dias, da Dicom/PUC Goiás.
Fotos: Ana Paula Abrão e Wagmar Alves