Com olhar para a fome, PUC e Arquidiocese apresentam tema da CF 2023

Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16). Esse trecho do Evangelho de Mateus iluminou as discussões da última Reunião Mensal de Pastoral, promovida pela Arquidiocese de Goiânia, no último sábado, 12 de novembro, na Cidade da Comunhão (Centro Pastoral Dom Fernando). Diante das lideranças comunitárias, agentes pastorais e o clero, a Igreja de Goiânia apresentou, em comunhão com a PUC Goiás, o contexto da Campanha da Fraternidade (CF) 2023, que abordará a temática Fraternidade e Fome.

Com um olhar para Cristo e em acolhida aos apelos constantes do papa Francisco para o problema da fome no mundo, o tema foi discutido em uma mesa-redonda, que contou com a participação de docentes e gestores acadêmicos da PUC Goiás. É importante contextualizar que a reunião foi realizada na véspera do Dia Mundial dos Pobres, celebrado pela Igreja no último domingo, 13 de novembro.

Juntamente com o bispo auxiliar de Goiânia, dom Levi Bonatto e o Monsenhor Luiz Gonzaga Lôbo, compuseram a mesa diretiva do evento, a reitora da PUC Goiás, Olga Ronchi; o diretor da Escola de Formação de Professores e Humanidades, prof. Romilson Martins Siqueira; a coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão (NEPE) Humanidades, profa. Rosemary Franscisca Neves Silva e a coordenadora do curso de Nutrição, profa. Thaisa Borges.

Compromisso evangélico de combate à fome

Os professores trouxeram diversas abordagens sobre o assunto, que foi discutido a partir de múltiplos olhares. Durante a reunião, os docentes fizeram um resgate dos ensinamentos deixados por Jesus Cristo, relatados no Evangelho, e uma retrospectiva histórica a partir da memória pastoral da Igreja no combate à fome, além da discussão do problema a partir do viés social e da saúde, considerando a perspectiva da segurança alimentar.

Reitora da PUC, a profa. Olga Ronchi relembrou que o tema da CF 2023 não é um compromisso novo da Igreja no Brasil. O assunto foi tema da Campanha da CNBB no ano de 1985 e a mesma Conferência produziu o Documento 69, de 2002, que discorre sobre as exigências evangélicas e éticas de superação da miséria e da fome.

“Depois de 20 anos, fazemos essa mesma reflexão, que nos mobiliza a encarar essa realidade. Um apelo evangélico, uma exigência ética, mas, acima de tudo, uma exigência evangélica da missão que o próprio Cristo confere a cada um de nós individualmente, mas também à toda sociedade”, instigou a reitora.

Já o prof. Romilson refletiu sobre a postura de cidadania cristã, que nada mais é do que a experiência da fé no exercício da cidadania. Alertando para a fome como um problema estrutural, ele afirmou que “pensar uma sociedade igualitária é se colocar no enfrentamento das adversidades e de todas as coisas que colocam os projetos do Reino de Deus em cheque”.

Também citou uma frase do papa Francisco de “uma Igreja pobre para os pobres”, mostrando, com isso, que o sumo pontífice faz um chamado para uma Igreja humilde, que pensa seus pobres e contextos de vida. Além disso, ele discutiu o significado de desigualdade social e analisou a problemática da fome resgatando a importância dos direitos humanos.

Em seguida, a profa. Rosemary fez uma reflexão teológica sobre o trecho do Evangelho de Mateus que inspira o lema da Campanha “dai-lhes vós mesmos de comer”, enfatizando que, nessa passagem Jesus Cristo, dá uma aula de como ser solidário. A luz da palavra de Deus, a docente leu a passagem bíblica e, em seguida, trouxe uma explanação pautada pela espiritualidade cristã.

Desmitificação do conceito de fome

Nutricionista, a profa. Thaisa trouxe um olhar científico e técnico para o assunto e explicou aos presentes que a fome vai muito além do estado nutricional da pessoa e da fome emergencial propriamente dita, que é a falta de acesso ao alimento.

Ela explicou que existem vários níveis de fome e que ela pode atingir até quem está acima do peso, em função da carência nutricional, manifestando-se de forma oculta. Por outro lado, também acomete os indivíduos que não ingerem uma quantidade suficiente de alimentos durante o dia, realidade que atinge os mais vulneráveis socialmente.

“A fome vai muito além disso. Qualquer coisa que saia da segurança alimentar pode ser tratada como um nível de fome”, explicou.

A docente trouxe outras abordagens para enriquecer a discussão e um destaque na sua fala foi quando ela abordou a diversidade cultural como um direito, sendo que, em muitas situações, há fome “de ser no alimento”. A professora também contextualizou a fome no viés da viabilidade econômica e da sustentabilidade mostrando, com isso, que o problema da fome é ainda mais complexo e profundo do que o senso comum nos apresenta.

Lançamento oficial será em 2023

É importante destacar que o lançamento oficial da Campanha da Fraternidade na capital goiana será promovida pela Arquidiocese de Goiânia, como ocorre de praxe, anualmente, no contexto litúrgico da Quarta-feira de Cinzas, em sintonia com o cronograma da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A reunião completa está disponível para visualização no link abaixo:

 

Fotos: Wagmar Alves