Mesa-redonda discute educação indígena no Brasil

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, diz o artigo 231 da Constituição Federal de 1988, texto que desde então integra a luta indígena no país. “Para nós, é como se fosse uma reza. Toda liderança indígena conhece esse trecho da Constituição”, lembra Wahuká Karajá, que participou, nesta quinta-feira, 11, da mesa-redonda A Constituição Cidadã e a educação indígena no Brasil, durante a Semana dos Povos Indígenas 2019.

O evento integra a programação do evento da PUC Goiás que, neste ano, tem o apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Lideranças indígenas, acadêmicos e professores acompanharam a discussão, que contou com mediação da professora Patrícia Loures, do Projeto de Educação e Cidadania (PEC/PDH).

Ao falar sobre o texto e sua conexão com a realidade indígena atual, o especialista e professor Wahuká Karajá lembra dos avanços trazidos para os indígenas até mesmo como classe, mas lamenta a distância existente entre o texto e a realidade, por falta de políticas públicas e de conscientização. “Antes os indígenas nem se assumiam, não queriam ser ‘índio’. Se sentiam discriminados, mais do que hoje. A lei nos garantiu que fossemos ‘índios’, como está escrito lá, hoje nós já nos chamamos de indígenas, não de ‘índio’, mas é o que está na lei”, comenta.

Sobre a configuração atual da escola indígena, o professor explica que ela tem nascimento com a carta constitucional. “A educação também foi trabalhada na Constituição. Nós não somos um só, somos vários povos, mais de 300, com várias línguas. Então foi determinado que a escola indígena deveria ser diferente, que deveria ser no mínimo bilíngue ou trilíngue”, pontua.

As conquistas, no entanto, não vieram sem luta. Wahuká lembra que os congressistas da época chegaram a considerar como ‘índio’, como está na lei, apenas os indígenas que não estavam estabelecidos na cidade, desconsiderando os aspectos culturais e sociais do grupo. Ao perceberem a falha, os indígenas reorganizaram suas lideranças e o movimento segue até hoje, ganhando, em 2019, novas investidas para tentar cessar o preconceito e a violência contra os povos indígenas do país.

A Semana dos Povos Indígenas 2019 segue até amanhã, 12, em espaços da PUC Goiás e da UFG.

Fotos: Weslley Cruz