Prosa discute parceria com projeto de economia solidária

Toda semana, o soldador aposentado Célio Teodoro de Campos, 51, sai da casa onde mora com a irmã, a sobrinha e o cunhado, no Jardim Nova Esperança, em direção ao Setor dos Funcionários. A cada segunda e quarta, ele passa o dia na segunda unidade do Projeto Gerarte – Cooperativa de Geração de Renda, com outros associados como ele, que empoderam-se do espaço para gerar arte e renda e fortalecer sua saúde mental.

Desde que começou a participar das atividades do espaço – criado e gerido pela Secretaria de Saúde de Goiânia – há seis anos, nunca mais foi internado. Para Célio, que convive com o diagnóstico de esquizofrenia desde a morte dos pais, o equilíbrio encontrado é uma grande vitória, um motivo de muito orgulho. “Eles me internavam direto, por qualquer coisinha. Então, pra mim, foi bom demais”, explica.

Célio, 51, nunca mais precisou ser internado após se associar ao Gerarte (Foto: Weslley Cruz)

O jovem senhor de fala calma e aparência atenta também orgulha-se do talento que desenvolveu no manuseio do material que, hoje, é sua especialidade: o papel. Entre as obras que fez – e vendeu – estão vasos, porquinhos e até um jacaré. “Antes eu não me imaginava fazendo artesanato. Acabou que eu gostei demais. É arte, né?”.

Após conversar de forma tímida com a reportagem, Célio foi convocado junto com os colegas para conversar com os voluntários e professores do Programa Sócio Ambiental e de Economia Solidária (Prosa) da PUC Goiás, que visitaram o local no dia 12 de setembro, para pensar parcerias. Em uma roda, todos, juntos, somavam algumas dezenas de pessoas. E muitos ali não se conheciam, já que era um primeiro contato para a maioria. Após um silêncio quase longo o suficiente para desenvolver a coragem necessária para falar em público, ele surpreende com a confissão. “Se não fosse o Gerarte, eu não saberia para onde ir”.

Juntos somos fortes

O encontro entre o programa de extensão universitária da PUC Goiás e o projeto da Secretaria de Saúde foi o primeiro passo dado em direção a uma possível parceria que deve ser formalizada e iniciada ainda em 2018. “Acho que temos muito a cara do Gerarte e que podemos caminhar juntos. Os eixos do projeto são os mesmos do Prosa, então podemos juntar forças”, avalia a professora Helaine Resplandes, coordenadora do projeto universitário, que reúne acadêmicos de cursos de graduação da PUC Goiás e de outras instituições de ensino superior goianienses, além de profissionais e professores voluntários.

Na unidade do Gerarte onde foi feita a visita, os associados são usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e todo o trabalho é focado na geração de renda a partir do artesanato, por meio da economia solidária. Na unidade instalada no Setor dos Funcionários, na região central da capital, são 30 famílias atendidas.

O trabalho, no entanto, enfrenta as dificuldades usuais aos equipamentos sociais: a limitação de recursos. A partir de uma equipe multiprofissional e um time de voluntários, mantém a série de atendimentos, mas acredita que parcerias como a em andamento com a universidade podem ampliar o potencial da unidade e transformar as outras unidades planejadas em uma realidade. “Goiânia não conhece o trabalho dos Gerartes, isso eu posso afirmar. Então nossa necessidade maior é de visibilidade”, considera a coordenadora do Gerarte 2, Izaura Valentim Galvão.

No papel, estão as unidades três e quatro do Gerarte. Uma terá foco na geração de renda a partir de uma horta comunitária, no Jardim Novo Mundo. A outra, em uma cozinha comunitária, na região noroeste. As duas áreas de atuação são especialidades do Prosa. “Os projetos se casam. Acho que juntos temos mais chance de conseguir apoios”, lembra a professora Helaine Resplandes.

Na unidade visitada, cada associado produz produtos comercializáveis respeitando suas limitações, mas o valor é dividido igualmente entre todos, a partir de “diárias” estabelecidas pela frequência de cada um. O modelo é replicado em todas as unidades, servindo de base, independente da atividade desenvolvida para a geração de renda. “A economia solidária serve para a geração de renda, claro, mas principalmente para a união, para juntos criarmos laços, objetos, afetos, vínculos. Esse é o maior ganho. A renda complementar vem acompanhada da autoestima e, aqui, também da saúde mental”, frisa Izaura.

Dentro e fora da universidade

O atendimento à comunidade ligado a governos e a organizações não governamentais também é, historicamente, um dos pilares das universidades comunitárias no Brasil, como a PUC Goiás. A inserção de acadêmicos em comunidades desfavorecidas e a abertura dos portões da academia para as populações da cidade dão sentido às atividades de extensão universitária, como as desenvolvidas pelo Programa Sócio Ambiental e de Economia Solidária (Prosa).

Com forte atuação na educação ambiental e alimentação saudável e desenvolvendo trabalhos em escolas e projetos sociais, o programa deve unir forças para fortalecer também seu eixo de economia solidária. Nesse processo, os voluntários tornam possível o planejamento e execução das atividades, que já beneficiaram milhares de pessoas em toda a região metropolitana. Na universidade, a cada semestre, uma seleção é feita para novos voluntários.

“Dentro de um mundo caótico como o nosso, o Prosa traz um pouco de paz. Aqui eu conheço outras vertentes do mundo, existe uma troca de experiências que me faz compreender melhor o outro”, analisa o acadêmico de jornalismo Marco Aurélio Ferreira, 20, que atua como voluntário no programa.

Na PUC Goiás, além do Prosa, outros programas e projetos de extensão em áreas como inclusão social, saúde, direitos humanos, terceira idade e juventude oferecem vagas e capacitação para estudantes e profissionais de qualquer instituição que queiram atuar como voluntários. A participação, além de trazer o desenvolvimento de habilidades sociais e técnicas, rende certificação de horas complementares. Os projetos podem ser conhecidos no site pucgoias.edu.br/extensao.

Fotos: Weslley Cruz