Pesquisador compartilha trajetória de vida e estudos com graduandos
Nos escombros da Alemanha destruída pela Segunda Guerra, uma árvore que cresce em um cenário inóspito chama a atenção de um jovem que buscava um caminho para sua própria vida agora longe de seu país de origem, a Letônia. Mais de sete décadas depois, Janis Roze se transformou em um dos maiores nomes da pesquisa em Biologia no mundo. Condecorado pela PUC Goiás em 2016 com título doutor honoris causa, ele retornou à universidade na noite desta quarta-feira, 22, para participar do Café ConSciencia, no Câmpus II, no Jardim Mariliza.
Em conversa na Praça do Estudante, ele compartilhou com os futuros biólogos parte de sua trajetória – uma vida dedicada à pesquisa – e também as experiências no universo científico. “É a primeira vez que falo em um espaço aberto”, brincou logo na abertura do encontro.
Janis comentou sobre o momento em que decidiu se dedicar à Biologia ao invés da Química – curso em que já havia se inscrito na universidade. N caminho de ruínas pelo qual passava para chegar ao trabalho “uma árvore crescia e eu me perguntava: como era possível? Uma árvore me deu uma decisão de estudar Biologia”, explicou ele, que tem 92 anos. Considerado a maior autoridade acadêmica no que se refere ao estudo de cobras corais, o pesquisador disse que se interessou pelos animais motivado pelo medo que sentia. “Me enamorei pelas cobras”, resume ele em um portunhol que dá pistas de sua vivência na América Latina, para onde migrou e, já em Caracas, na Venezuela, passou a se dedicar aos estudos das serpentes.
Nascido em Latvia, em 1926, foi pesquisador associado do Museu Americano de História Natural, em Nova York, e, também do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa e do Centro das Nações Unidas para Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento. Entre diversas posições de destaque ao longo de sua trajetória, foi membro fundador do Instituto para o Desenvolvimento Integral na Argentina e, na Europa, lecionou evolução integrativa do homem na Universidade de Bremen, na Alemanha.
No Brasil, prof. Janis foi um dos fundadores do Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica, criado em 1995, com o objetivo de preservar o meio ambiente por meio da pesquisa e conscientização, buscando o equilíbrio e a transformação sociocultural da região. Sua atuação no País vai ao encontro de seus interesses atuais relacionados ao desenvolvimento humano, transformações sociais e integração entre ciências, arte e sociedade.
Aproximação
O coordenador do mestrado em Ciências Ambientais e Saúde da PUC Goiás, prof. Nelson Jorge da Silva Junior explica que o Café ConSciência quer aproximar os graduandos de pesquisadores renomados que visitam Goiânia a partir de suas trajetórias de vida. A ação foi desenvolvida a partir de professores das Escolas de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas e Ciências Agrarias e Biológicas. “A ideia é que os alunos e os professores conversem com ele (prof. Janis Roze); algo bem informal, mas que seja uma maneira de aproximar os acadêmicos de grandes pesquisadores, pelo aspecto humano”, detalha.
Integração
A coordenadora pedagógica do curso de Biologia, profa. Maria Vilma, cuidou da ornamentação da praça que recebeu o Café Consciência. “Quis alegrar o palestrante, que gosta de coisas esotéricas”, comentou ela, referindo-se à decoração com, entre outras coisas, velas e filtros dos sonhos.
A docente cita o estímulo, com o encontro, para que mais alunos da Biologia participem das ações de pesquisa. Hoje, uma dezena deles já atua em espaços como o Instituto do Trópico Subúmido (ITS), Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas (CEPB), Centro de Biologia Aquática (CBA), Núcleo de Pesquisas Replicon (NPR), além dos núcleos de Paleontologia e de Botânica.
Aluno do 6º período, Temistocles Fapi, 36 anos, diz acreditar que eventos fora da sala de aula estimulam a integração entre alunos. “Tem uma troca de informações”, pondera.
A próxima edição do evento deve ser realizada na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas.
Fotos: Ana Paula Abrão