Cientista graças aos óculos de natação
Esta é a história de um menino. Ele nasceu em Brasília em 9 de janeiro de 1979 e, aos 8 anos, “se tornou” biólogo com a ajuda dos óculos que usava nas aulas de natação. “Já tinha ido algumas vezes para uma casa de praia e daquela vez entrei com os óculos no mar. Não imaginava toda aquela vida embaixo d’água. Naquele instante, eu me tornei biólogo”, conta Eduardo Bessa Pereira da Silva, o garoto que hoje é professor do curso de Ciências Naturais da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Pint of Science na região Centro-Oeste.
Filho de funcionários do Banco Central, Bessa não se assustou com as dúvidas da família, que temia não ser possível levar a vida como cientista no Brasil. Seguiu a recomendação de um professor e, aprovado no vestibular, partiu com mala, cuia e todo seu interesse por biologia marinha para a Universidade de São Paulo (USP).
Durante a graduação, descobriu os perrengues da vida universitária: a louça na pia, a despensa vazia, a saudade. E aprendeu que não havia problema algum em ser nerd. “Na escola, achava que se fosse muito bem iria queimar meu filme, sofri preconceito. Na USP, houve uma mudança de valor. Eu me identifiquei. A universidade era mais interessante do que a escola, não fazia ideia de que seria tão legal”, diz.
Empolgado, ele quis logo colocar o aprendizado em prática e foi procurar estágio. Primeiro, tentou o laboratório de genética. A ideia de matar moscas para realizar as análises, porém, não agradou e ele partiu para o laboratório de biologia celular. Descobriu que trabalharia com moluscos mortos e, novamente, veio a decepção.
“Já estava começando a achar que o nome do curso tinha que ser trocado para Necrologia”, brinca. “Sempre gostei de coisas mais macro, e aí descobri a área que estuda o comportamento animal”, conta. Era o rumo que faltava para o menino dos óculos de natação.
Tubarão-baleia e sucuri gigante – Apresentado ao novo campo, Bessa fez estágio no zoológico de Brasília e no Projeto Tamar. Gostou tanto de poder ver os animais ativos e de interagir com eles que decidiu fazer mestrado em Zoologia e doutorado em Biologia Animal. Ele se especializou em peixes e, mesmo morando com a esposa e os filhos de 4 meses e 4 anos longe do mar, tenta mergulhar ao menos duas vezes por ano.
Em um desses mergulhos, em Santos, se deparou com um tubarão-baleia. A emoção foi tamanha que o coração disparou, a frequência respiratória aumentou e o cilindo de oxigênio que deveria durar 1h40 acabou em cerca de 1 hora.
Em outra viagem, no Pantanal, viu uma sucuri gigante passar ao seu lado, e se recorda ainda de quando o grupo em que estava quase ficou preso em uma caverna. “Começou a chover e o nível da água subiu. Foi bem assustador”, conta em tom de travessura.
As experiências ensinaram como tudo é fugaz, como o ser humano é pequeno perto da natureza e o quanto precisa dela. Também aumentaram o encantamento que o menino já sentia pela ciência e sua vontade de compartilhar o conhecimento com mais pessoas. “A vida me causa tanta perplexidade, não é justo guardar só para mim ou só para os pares”, justifica.
Vem daí a participação no festival de divulgação científica Pint of Science, que nos dias 14, 15 e 16 de maio promoverá 500 bate-papos sobre ciência em 56 cidades brasileiras. Em Brasília, haverá conversas sobre febre amarela, zika, psicologia forense, o poder das máquinas, privacidade na internet, lesões no crossfit e até uma discussão sobre por que as mulheres sofrem tanto no amor. Basta escolher entre as opções da programação e mergulhar de cabeça na ciência. (Texto: Stefhanie Piovezan)