Justiça, terra e paz pautam discussões de evento
A demarcação dos territórios indígenas foi o eixo central das discussões da primeira mesa redonda da Semana dos Povos Indígenas da universidade – Justiça, terra e paz: fontes para o bem viver, realizada na manhã desta terça-feira, 17, no auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades. O evento recebeu lideranças indígenas apinajé e karajá, além de representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e poder legislativo estadual.
A coordenadora da mesa, docente do curso de Arqueologia da PUC Goiás, Ludimília de Melo Vaz, pontuou o eixo das discussões que envolvem não só a cultura material desses povos, como também a espiritualidade, crenças e conhecimentos, possibilitando a troca de experiências interculturais.
Na ocasião, o líder indígena de Tocantinópolis (TO), Antônio Veríssimo Apinajé, atentou ao público que a falta de demarcação dos territórios indígenas e atenção do poder público levam as comunidades a uma situação de abandono nos últimos anos. “Se os recursos naturais não tiverem atenção do Estado, essa comunidade pode sofrer violências e doenças. A Funai está falida e queremos que o governo tenha vergonha, honestidade e responsabilidade para cumprir a constituição federal”, declarou a liderança.
O indígena defendeu a necessidade de manutenção dos territórios já protegidos e a demarcação das terras que estão sendo reivindicadas, conforme os preceitos legais. “Estamos sofrendo cinco séculos de violência, massacre e opressão. O Brasil é um país continental. É necessário dar aos fazendeiros o que é de direito, eles alegam que são produtores, mas os territórios indígenas precisam ser protegidos. É um direito à vida, um direito à existência, como está na carta da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É o mínimo que o Estado pode fazer, isso acabaria com a violência e opressão”, argumentou.
Membro nacional do Cimi, o indigenista Gilberto Vieira, socializou alguns dados que ilustram a situação descrita pelo apinajé. Hoje o país possui quase 1 milhão de indígenas e 533 terras de diversas etnias estão sem providências. A Amazônia, atualmente, possui maior equidade na proporção entre o quantitativo de indígenas e territórios demarcados, todavia na maioria dos estados brasileiros os dados são desproporcionais: pouco mais de 1% de terra demarcada para cerca de 60% de indígenas.
Ele também mencionou os 30 ataques às comunidades indígenas no Mato Grosso Sul, seja por terem seus direitos negados, seja por cobranças em relação ao pacto constitucional que não foi cumprido. Ao final, chamou atenção dos presentes para refletirem sobre a incitação ao ódio e violência, muitas vezes, vinda de bancadas políticas. Em consonância com os depoimentos anteriores, a graduanda de Pedagogia da UFG, Vanessa Hatxu Iny, que é da etnia karajá, afirmou que os povos indígenas estão em busca do bem viver, apesar da realidade de exploração de recursos naturais e exclusão: “a cada ano nossos direitos estão sendo violados e massacrados”, disse.
Participante da mesa, a deputada estadual Isaura Lemos pontuou que a causa necessita de mais visibilidade, além de ser inserida em um contexto mais geral, como o acesso à segurança e à saúde. “Respeitamos as lideranças pela história e luta que representam. E percebemos, enquanto sociedade, que pouco sabemos sobre a questão indígena, há muita desinformação. Apesar dos tempos tenebrosos, precisamos ter esperança”, afirmou.
O evento, que segue até o dia 20 de abril, foi destinado aos graduandos do curso de Pedagogia da Escola de Formação de Professores e Humanidades. De caráter itinerante, a programação da Semana dos Povos Indígenas também será realizada no Câmpus V, que abriga as escolas de Comunicação, Direito e Relações Internacionais.
Fotos: Wagmar Alves