Podcast Experimento debate fenômenos religiosos com professores da PUC

O mais novo episódio do podcast Experimento, iniciativa da Divisão de Comunicação (Dicom), em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Prope) e com o curso de Jornalismo, recebeu os professores José Reinaldo Martins e Clóvis Ecco, integrantes do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião (PPGR), afim de abordar fatos relacionados ao movimento religioso.

Questões como o preconceito, a desigualdade de gênero e os obstáculos da tecnologia foram essenciais nos estudos da religião como fenômeno intersocial, ou seja, capaz de se relacionar com inúmeros elementos que compreendem a vida humana. Essa colocação guiou as discussões do encontro, na tentativa de desvendar a complexidade do tema.

De acordo com as pesquisas realizadas pelo Datafolha no ano passado, cerca de 49% das pessoas se consideram católicas, 26% evangélicas e outras 14% se enquadram no segmento “sem religião”. Esse termo, inclusive, foi discutido durante o programa.

Os “sem religião” vem aumentando o número de adeptos ao longo dos anos, tornando-o uma das nomenclaturas mais estudadas por especialistas da religião. Em outra pesquisa recente realizada pelo instituto Datafolha, em 2020, 10% dos entrevistados se reconheciam como “sem religião”, um decréscimo de 4% em relação ao levantamento de 2022.

Clóvis Ecco explica que a ascensão dessa vertente é consequência da alteração dos processos sociais apresentados pela idade contemporânea, impactando diretamente na pluralização das religiões.

“Nos anos 60 e 70 todos eram religiosos a partir de uma tradição, como o próprio catolicismo. As pesquisas mostravam que a sociedade apresentava entre 90% e 97% de católicos. Atualmente é possível observar uma diminuição nesses números devido as novas adesões, como os “sem religião”. Esse é um grupo bastante relevante, podendo chegar até 22% através de projeções realizadas por institutos, como a PUC Minas e São Paulo”, comenta.

É importante reiterar que o grupo não se relaciona com o ateísmo, atraindo em sua maioria jovens entre 16 e 24 anos. A vertente trabalha com os conceitos divinos, porém sem vínculo com qualquer entidade religiosa.

 

Presença das mulheres na religião

Outro dado em destaque presente no censo de 2020, apresenta o público feminino como maioria nas igrejas católicas, 51%,, e evangélicas, 58%.

“O IBGE apresenta uma diferença entre os sexos pela primeira vez em 2010. Na ocasião, os homens ainda eram maioria no catolicismo. Uma condição alterada na última década, implicando um trânsito comum nessas comunidades”, afirma Clóvis.

Os processos de alternância entre os gêneros são compreendidos pelos estudiosos como uma manifestação dos sonhos e a busca por identidade social e soluções de problemas que impactam o público feminino.

O professor José Reinaldo define a crença como uma condição de sociabilidade, categorizando o ser humano como uma raça essencialmente crente.

“A humanidade formulou diferentes níveis de crença ao longo do tempo. Nesse sentido, eu destaco o fenômeno da morte. A morte é um acontecimento pelo qual ficamos impotentes, sendo ela uma experiência que gerou dúvidas acerca da vida após a morte, e de outros questionamentos que a permeiam. A busca por respostas justifica o aumento no número de mulheres nos rituais, visto que somente agora elas estão experimentando as leis de emancipação”, analisa.

 

Ateísmo e agnosticismo

A religião acompanhou as transformações sociais, desafiando instituições religiosas a seguirem pelo mesmo caminho. A presença da crença ainda é muito intensa dentro das novas gerações, expressada por inúmeras formas.

“Pessoas do século passado têm dificuldade de entender que o mundo mudou. Os jovens têm descoberto uma maneira própria de crer. Na Europa, por exemplo, eles têm se dedicado a causas mais nobres, movimentos altruístas, engajamento em ações humanitárias. Isso é uma centelha que a religião potencializou”, explica José.

As pesquisas demonstram que tanto o ateísmo quanto o agnosticismo crescem de forma comedida na sociedade. Dentre os 15,3 milhões de brasileiros identificados como “sem religião” no último censo do IBGE, apenas 4% eram ateus, e somente 0,8% agnósticos.

Por mais que pesquisadores entendam o fenômeno da crença como um grande desafio para os jovens, a busca por novas divindades só aumenta a cada dia. José Reinaldo vislumbra um caminho de maior conhecimento democrático sobre a religião, a partir da emancipação de outras doutrinas e a garantia da legitimidade dos seus seguidores.

“Nós vivemos um momento marcado por muitas iniciativas conjunturais que vão determinando um modo de performar dos indivíduos. Isso tem possibilitado que as pessoas usufruam da sua liberdade constitucional dentro da religião”, esclarece.

A busca por religiões como Candomblé e Umbanda, coloca o Estado laico presente na constituição brasileira em prática. Segundo Clóvis, o próprio conceito de agnóstico vem sendo alterado.

“Agnóstico era um ser ignorante devido a sua incapacidade de acreditar. Hoje o agnóstico é aquele que não se enquadra nas tradições monoteístas, dogmáticas e morais. Existem formas de ateísmo e agnosticismo diferentes”, cita.

 

Tecnologia e o fenômeno religioso

Uma das maiores dificuldades da geração passada é compreender que o mundo já mudou. De acordo com o professor José Reinaldo, essa incompreensão será erradicada somente quando os ascendentes se adequarem às novas descobertas.

“Religião em processo de reinvenção à luz das novas tecnologias. Isso altera a realidade religiosa e institucional que nós conhecemos até hoje. Tornaram mais agudas as relações individuais com o objeto de crença. Cada vez mais as pessoas performam suas crenças a partir de tecnologias, vídeos e comunidades. Cada vez menos elas interagem pessoalmente no espaço de tempo e convivência física”, disserta.

Para ele, a tecnologia é tudo que passa pela iniciativa do ser humano e que rompe com um ciclo de continuidade da natureza. Sabendo que a modernização é parte do DNA de uma sociedade, cabe a ela lidar com as mudanças.

“O conhecimento perpassa entre os colegas. O contato físico é importante. Se você retira essa essência na comunidade, você também perde a essência do religioso. As religiões precisam encontrar uma forma de perpetuar esses contatos e expressões”, observa o professor Clóvis, perante a capacidade adaptativa do fenômeno religioso.

 

Sobre os entrevistados

Professor Clóvis Ecco é coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Possui doutorado em Ciências da Religião pela PUC Goiás (2013). É graduado em Teologia pelo Instituto Missioneiro de Teologia (1994); em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Dom Bosco (1990). Especializado em Psicopedagogia pela PUC RS (1992).

Professor José Reinaldo é doutor em Ciências da Religião pela PUC Goiás (2019). Doutor em Filosofia pela UFG (2011). Mestre em Filosofia (2014), e em Música (2016), pela UFG. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da PUC Goiás.

 

O podcast

O podcast Experimento foi idealizado pela Dicom e conta com a parceria da da Prope e do curso de Jornalismo da universidade. Para além de uma oportunidade de os alunos do curso colocarem seus conhecimentos acadêmicos em prática, o produto tem como objetivo divulgar pesquisas realizadas na PUC Goiás. Cada episódio é publicado quinzenalmente, apresentando estudantes, docentes, coordenadores e demais participantes que mantém o tripé da instituição.

 

Texto: Juliano Cavalcante, estagiário da Dicom