Pesquisadora da PUC RS discute Pacto Educativo Global em conferência

O Pacto Educativo Global, proposto pelo papa Francisco em outubro do ano passado, trouxe uma meta e, ao mesmo tempo, um desafio para o mundo. Ao ressaltar o papel da Educação como um ato de esperança, o pontífice sugere um processo educativo mais aberto e inclusivo, voltado para a escuta paciente, diálogo construtivo e compreensão mútua.

A iniciativa conta com apoio da UNESCO e de diversas instituições de ensino mundo afora e visam sete compromissos que incluem a promoção do diálogo, a busca permanente por uma cultura da paz e o cuidado com o meio ambiente.

Para aprofundar a discussão com o intuito de alcançar uma compreensão mais ampla sobre o tema e, ao mesmo tempo, mobilizar a comunidade acadêmica para somar esforços à iniciativa, o NEPE em Humanidades e o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás promovem no dia 25 de maio, às 9 horas, o I Ciclo de Conferências, que aborda a temática central Educação Humanizadora das jovens gerações a partir do Pacto Educativo Global.

O evento, que será transmitido pelo canal da PUC Goiás no YouTube, contará com a participação da coordenadora do Observatório Juventudes, integrado à Pró-Reitoria de Identidade Institucional da PUC RS, Patrícia Espíndola Lima Teixeira, que é psicopedagoga, doutoranda e mestre em Teologia pela pontifícia gaúcha, com ênfase em Antropologia.

Na entrevista abaixo, a pesquisadora conta detalhes sobre o trabalho desenvolvido pelo Observatório e reflete sobre os principais pontos propostos pelo papa Francisco, por meio do Pacto Global.

Patrícia atua como pesquisadora, assessora psicopedagógica e docente.

1) Quais as principais atividades desenvolvidas no Observatório Juventudes que vão ao encontro do Pacto proposto pelo papa Francisco?

Na PUC RS desenvolvemos pesquisas com adolescentes e jovens, a partir de suas realidades e para a promoção e garantia de seus direitos à vida e ao desenvolvimento integral. O Observatório Juventudes atua em redes conectivas, onde além de pesquisas e difusão do conhecimento, investe na incidência de suas ações em contato direto com as novas gerações, educadores, familiares e gestões em âmbitos educativos, sociais e eclesiais.

2) O Pacto enaltece o protagonismo do estudante no processo educativo. Quais ferramentas a educação pode utilizar para a pessoa vir à centro?

Desde o princípio de seu pontificado em 2013, a eclesiologia do Papa Francisco vem sendo marcada pelo valor imprescindível do espaço educacional como um bem e patrimônio humano. Quando convoca o mundo a restaurar um Pacto Educativo Global, evidencia que é preciso garantir o direito às novas gerações de uma educação que edifique cada ser em si, cada comunidade, cada sociedade, potencializando culturas solidárias e transformadoras.

O processo é coletivo: a escola não pode ficar sozinha em seu papel, tampouco os professores. É preciso empenho e superação de visões reducionistas. Nesse sentido, o Papa alerta para o fundamental engajamento de famílias, instituições de todos os níveis de ensino, instâncias públicas e privadas e cada cidadão a serviço do bem comum educacional. Aqui, ressalto o papel central de crianças, adolescentes e jovens como principais atores no percurso e protagonismo formativo.

Se a educação deve ocorrer através de práticas diligentes, essas não podem abrir mão da escuta ativa daqueles que são os interlocutores do ensino e aprendizagem. Da escuta, à sistematização, ressignificação, novas construções e mobilizações transformadoras dos contextos singulares e plurais, vejo que através da proposta de aliança fomentada pelo Pacto Educativo Global, temos a oportunidade de (re)construir um diálogo transparente com as novas gerações partindo de seus múltiplos perfis, percepções e crenças.

3) Nota-se que as novas tecnologias abrem caminhos para a educação neste contexto de pandemia, mas percebemos que nem todas as pessoas têm acesso a essas ferramentas. A educação digital aponta abismos sociais. Como a senhora analisa essa questão?

Processos educativos não se restringem aos métodos, mas estes, são embasados e integrados em fundamentos antropológicos e éticos. Podemos nos perguntar: que tipo de ser humano, nossos modelos educacionais contribuem para formar? A depender da concepção de ser humano, de humanidade, de abordagens ético-pedagógicas, assim se desenrolam as práticas. Por isso, o olhar diagnóstico aos cenários e complexidades atuais que envolvem um abismo de exclusão digital educacional, focalizando em quem são os principais atores do processo, oportunizam (re)planejamentos, arquiteturas e alinhamentos sistêmicas, orgânicos e ao encontro de cada pessoa concreta em seu tempo histórico de desenvolvimento.

4) Um dos sete compromissos alerta sobre o cuidado com o meio ambiente, temática, inclusive, abordada em outra encíclica do pontífice. As novas gerações são um sinal de esperança, considerando a atual escassez de recursos naturais?

As jovens gerações herdam um mundo em crise sanitária e em condições de precarização de seus recursos naturais. O grande desafio ao que o Papa convoca está em não deixarmos para o futuro resolutivas emergenciais. Os jovens atuais revelam uma consciência muito mais sustentável do que as gerações passadas. Porém, uma educação intergeracional implica em assumirmos no agora, a condição planetária como urgência e responsabilidades global de todos.

Entenda o Pacto Educativo

Os 7 compromissos destacados pelo papa Francisco são:

1 – Colocar a pessoa como protagonista de cada processo educativo

2 – Ouvir a voz das criançasadolescentes e jovens a quem transmitimos valores e conhecimentos

3 – Favorecer a plena participação das meninas e adolescentes na instrução

4 – Ver na família o primeiro e indispensável sujeito educador

5 – Educar e educarmo-nos para o acolhimento, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados

6 – Encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, na perspectiva de uma ecologia integral

7 – Guardar e cultivar a nossa casa comum, protegendo-a da exploração dos seus recursos, adotando estilos de vida mais sóbrios e apostando na utilização exclusiva de energias renováveis

(Vídeo da Comissão para Educação e Cultura da CNBB)